sábado, 17 de setembro de 2011

“Esta terra ainda vai cumprir seu ideal”...Qual?

O artigo “Esta terra ainda vai cumprir seu ideal”, se fosse para voltar à infância, me faria qualificar o seu autor como “o estraga prazeres do grupo de amigos da escola”. Já o havia lido mas ao reler o mesmo no competente ma-schamba, me induziu a voltar a cronicar na Lanterna Acesa.
É de uma carga negativa tremenda. Começa por se apegar a uma infeliz colocação de um consultor para passar a idéia de que os agricultores brasileiros são uns colonialistas à moda antiga, quando as nações sobre as suas caravelas buscavam descobrir terras além mar, fazendo-se esquecer que o agricultor do cerrado brasileiro não é um aventureiro e sim um investidor que está diretamente ligado ao desenvolvimento do Brasil e dos bons  resultados dos últimos anos na economia deste país. No Brasil, como em outros países desenvolvidos, emergentes ou não, quando a agricultura vai mal, a construção civil vai mal, a indústria automobilística vai mal e por aí afora.
Depois coloca como se a noticia não seja de fato uma novidade. Como se o tema já fosse propagado aos investidores de agronegócios brasileiros há muitas décadas, mas que ainda assim os agricultores brasileiros não conhecem a realidade moçambicana e fazendo um desfile de motivos para que estes investidores tremam de medo e tomem cuidado com onde pensam pisar. Fala da vegetação diversa, fala da população de 12 milhões de pessoas organizadas em várias línguas e culturas, cada um com a sua história. Levanta a questão de ter sido aquela região o principal palco das guerras que Moçambique viveu.  Fala da inexperiência de relações sociais dos agricultores brasileiros.
Fala de um monte de aspectos negativos, de uma forma negativa, que me deixam na dúvida a quem ele pretende proteger. Se aos ingênuos produtores e investidores brasileiros ou se a Moçambique. No fim, vejo o autor da crónica desqualificando um e outros. A descrição que faz de Moçambique é quase de um território não apropriado para o investimento e fadado a se manter um território subdesenvolvido, com várias nações passando por dificuldades (isso ele não chega a deixar claro) e que não haverão de ser apresentados a outras alternativas de sobrevivência e desenvolvimento. Deveria ele fechar o artigo dizendo: Querem ir a Moçambique gastar uns trocados e participar assim da economia e um país exótico? Vão à Gorongosa ver os leões e crocodilos e por lá visitarem umas aldeias indígenas... coisas assim, de colonialista do antigamente. Eu aqui, de patrão turista, e vocês lá, fazendo parte de um quadro exótico!
Entendo as preocupações que temos assistido em Moçambique sobre a possível execução deste projeto ao norte do país. Entendo também alguns dos cuidados, como cuidados, que o Beluce levanta na sua crónica. Mas não concordo em absoluto com o seu posicionamento negativo, sem apresentar sugestões para qualificar o projeto, como com a sua falta de lógica demonstrada em alguns momentos da sua crónica.
A afirmação que faz sobre não ser a disponibilidade de terras que atrai estes investidores brasileiros e sim a mão de obra barata é no mínimo maldade e até, tendo quem  acredite nele, deixar de cuidar do essencial. Digo isso porque sei, e o Beluce tanto ou mais do que eu, que a agricultura nos moldes atuais no cerrado brasileiro, de soja, milho e algodão, usa muito pouca mão de obra. E não haverá de ser nessa atividade que Moçambique poderá acreditar haver um retorno direto no índice de emprego do país ou das populações locais. Se Moçambique investir e se organizar para o restante da cadeia produtiva, como capacidade de pré-beneficiamento destes produtos e armazenamento dos mesmos, como até  o manufaturamento destes, ai sim haverá uma grande absorção de mão de obra.
Se Moçambique fizer um planejamento competente no uso da terra, este tipo de projeto não deve trazer prejuízos aos pequenos agricultores, podendo e devendo trazer sim valores agregados como tecnologia de ponta mais ao seu alcance.
Moçambique deve, com toda a certeza, avaliar o currículo dos investidores brasileiros, porque também aqui temos aventureiros ou aproveitadores. Deve Moçambique ter um cadastro levantado junto aos órgãos competentes brasileiros, como Ministério da Agricultura e Ministério do Trabalho, de cada um dos investidores que se apresentar para fazer parte desse projeto. Isso será muito fácil de o fazer, levando em conta a aproximação que sabemos existir entre os dois Governos dos Estados envolvidos.
É um projeto que tenho convicção poderá trazer grandes benefícios para Moçambique com bons resultados para os investidores.
Não há que nos prendermos a frases de efeito dos “Beluces”  como a que me referi anteriormente sobre estarem os investidores buscando mão de obra barata, quando eles sabem que não é, não para os plantios projetados, a mão de obra um componente comprometedor nos custos de produção. Não pelos baixos  salários, mas sim pelo pouco uso num plantio e colheita cada vez mais automatizados. Não querer vender a idéia que o que se vai plantar, milho, soja e algodão, não terá como foco o alimentar os moçambicanos porque destes só o milho se presta para o alimento. Ora! O que se faz com soja? Tanto atende como alimento direto para os seres humanos, pois trata-se de um feijão com alto teor nutritivo, como alimento indireto, na fabricação de óleo comestível de alta qualidade e farelo que poderá tanto atender a indústria de alimentos como para rações animais que depois também se transformarão em alimento humano.
O que deverá ficar transparente é que estes produtos serão direcionados pelos investidores para os mercados mais rentáveis. Se o mercado de exportação estiver pagando melhor do que o mercado interno pagar, assim ele será direcionado. O Estado é que deverá ter dispositivos para direcionar a produção mais ou menos para consumo interno, seja através de subsídios, seja através de investimentos complementares para o processamento destes produtos dentro do país, especialmente o mais perto possível de onde os mesmos são cultivados diminuindo  assim os custos de logística buscando custos finais melhores para os consumidores internos.
E fundamentalmente há que acreditar que o que alimenta uma população é dinheiro no bolso. Dinheiro no bolso, do estado e dos cidadãos, nos dá a condição de nos alimentar de comida, de acesso à saúde, à educação, e de acesso a tudo que uma sociedade tem direito, independente de culturas ou credos religiosos.
O Estado que fique com a obrigação de garantir investimentos, de criar condições de infraestrutura para o desenvolvimento e de garantias da melhor e mais justa distribuição de renda possível.
Sobre a competência dos agricultores brasileiros e da cada vez mais necessidade de produção de alimentos, deixo aqui um link pedindo desculpas antecipadas pela propaganda ao produtor deste vídeo. É que independente dos interesses comercias deste em relação aos mercados de fertilizantes e defensivos brasileiros, é uma matéria que mostra números que devem ser refletidos.

*Quem sabe um dia destes eu não venha a escrever algo sobre como o desenvolvimento dos Estados do Mato Grosso do Sul e Mato Grosso vem evoluindo desde que os agricultores de soja, milho e algodão foram para estas terras plantar o alimento e outros produtos essenciais para o planeta.